segunda-feira, 3 de maio de 2010

Existe vida sem música?



Tá, esse é o tipo de pergunta pra qual eu não espero resposta. Existe. Eu sei que existe. Mas é tão mais complicada. E eu me sinto um tanto desprezível por ter parado pra pensar nisso somente hoje, 03 de maio de 2010, o dia em que eu perdi o meu Ipod.

É. Foi isso mesmo. :/

(vontade de chorar)

Lembro de tê-lo visto, ou melhor, escutado, pela última vez hoje, a caminho do trabalho. Desci do carro e aí o guardei na minha bolsa. Ou pelo menos é o que eu deveria ter feito.

Trabalhei a tarde inteira. Às 17:30 fui pegar o ônibus que me levaria pra casa. Ônibus sem música pra mim não é ônibus, só que ao abrir minha bolsa, cadê???

Droga, droga, droga! (segurei o choro) - Tá, mentira, não sou tão mimada assim.

Mas doeu.

Resta um pingo de esperança ainda. Esperança de chegar amanhã e encontrá-lo esquecido na gaveta da minha mesa. Tomara! Torçam por mim.

E se alguém encontrá-lo, contate-me. Vivo ou morto! É igualzinho o da foto aí.

A noite vai ser tensa hoje.

E ah, já ia esquecendo: o Ipod era do meu irmão. :S

É o fim pra mim.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Franz Ferdinand, 18 de março de 2010



Andei afastada. Desconheço o motivo. Falta de inspiração? Talvez. Ou talvez fosse excesso dela também. Who cares? Mas o fato é que estou de volta pra contar pra vocês um pouquinho de uma das melhores noites da minha vida. Ou seria A melhor?



18 de março de 2010, quinta-feira.



Acordei pra mais um dia de trabalho normal. Ia trabalhar até as 17:30, "voar" pra chegar em casa antes das 18h, "voar" mais um pouco pra estar prontinha até as 18:30h e aí era ir com o pai* até a casa da Nati, embarcá-la no carro e irmos até Porto Alegre, pro show da Franz Ferdinand, que tinha abertura dos portões marcada pras 20h. Era "voar" mesmo!




*Beijo pro meu pai que se prontificou a nos levar e buscar também.


Ok, tínhamos um plano.


Acontece que nem tudo saiu como o esperado. Ao meio dia voltei pra casa com o objetivo de almoçar. Na hora de voltar pro trabalho, uma surpresa: ótima hora pra bomba d'água do carro romper! "Ok, isso não deve ser nada demorado de consertar", pensei. E não foi mesmo. "Ufa!" Trabalhei a tarde inteira, o que não requer detalhes. Cheguei em casa as 18h, como planejado. Saí de casa às 18h 45, 15 minutos depois do planejado. Já no carro, a Nati pergunta:


- Trouxe a identidade?


- Precisa de identidade?


Voltei pra casa. Peguei a maldita identidade, que, como previsto, foi totalmente inutilizável.
Ok, pegamos a BR 116. E com ela, um engarrafamento completamente anormal.
Resultado: chegamos 20 minutos antes da abertura dos portões. Final da fila? Que nada! Pra que servem conhecidos que já estão lá desde às 14h da tarde?!
Resultado final: 3 metros do palco, Nick e Alex mais empolgados do que nunca e uma noite inesquecível, com cada detalhe exatamente como tinha que ser.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pinheirinho

Sabe aquela sensação de nostalgia que chega de surpresa, sem hora marcada, sem aviso prévio, quando a gente menos espera? Não falo de saudade. Porque a saudade é um sentimento que pode morrer. A nostalgia não. O tempo não volta. Não na vida real. Sabe, né? Eu também. Aconteceu hoje.
Meu pensamento voltou há alguns anos atrás. Lembro que quando era criança, minha maior paixão era o pátio da minha casa. Dois terrenos livres, repletos de árvores, bancos, um balanço e até uma casinha de bonecas. Amarrava cipós, "cozinhava" laranjas podres, fazia bolo de areia, tudo. E o que não tinha, eu inventava. Lembro também que ao lado da entrada do carro, minha mãe plantou uma fila de pinheiros. Alguns mediam a minha altura, outros menos. E lembro ainda que eles estavam ordenados por tamanho, o que me deu a ideia de brincar de escolinha: eu era a professora, eles os alunos. Meu preferido era o primeiro da fila. O menor. Devia estar na altura do meu peito talvez. Era divertido.
Os pinheiros ainda estão lá. Depois de lembrar, resolvi parar ao lado do menor. "Como eu cresci, ele deve bater na minha cintura agora", pensei. Surpresa. "Não pode ser." O que antes era um pinheirinho de um metro, agora estendia-se metros acima de mim.
"Será que passei por aqui durante todos esses anos e não parei nem por um segundo para olhá-lo?" Murmurei que não. Preferi acreditar que o pinheirinho cresceu misteriosamente, da noite pro dia. Assim como eu.

domingo, 14 de março de 2010

Conto - Olhares

São 05h50min de uma chuvosa madrugada de outubro. Quinta-feira. Como de costume, sou acordada pelo despertador interno da minha cabeça. Aquele que me avisa que as crianças precisam ir à escola; aquele que me avisa que elas precisam comer; aquele que me avisa que eu preciso estar no trabalho em alguns minutos. O mesmo que me lembra que as contas venceram ontem, que o leite acabou e que a professora do filho mais novo precisa falar comigo.
Levanto da cama e caminho até o quarto das crianças. Estas dormem como se não houvesse mais nada além da pequena casa onde moramos. “Levantem!” Eu grito. A mais velha abre os olhos. “Acorda e chama os teus irmãos. Hoje vocês vão caminhar até a escola.” Economizar na passagem do ônibus é uma das soluções que eu encontro pra mudar a situação da geladeira, que no momento encontra-se vazia.
São necessários apenas mais cinco passos e eu agora estou na cozinha. Apanho quatro bananas da cesta sobre a mesa: uma para cada filho. “Obrigada mãe.” E então o caçula me abraça. E por um momento, é como se problemas não existissem. Sinto uma vontade imensa de permanecer assim até o fim do dia.
“Mãe, amarra meu cabelo?” Eu olho pra ela. Minha menina. Tanta coisa já vivida para uma menina de onze anos. Chamá-la de mais velha aperta meu coração. Implica em impô-la uma série de responsabilidades injustas para uma garota da sua idade. Enquanto prendo seus longos cabelos castanhos, lembro do dia em que ela chegou. Era tão pequena, mas seus olhos eram grandes. Grandes, claros e curiosos. Não era preciso que falasse para entendê-la. Bastava olhá-la. “De onde vieram esses olhos verdes?” Lembro de ouvir o pai dela perguntar. E antes que eu pudesse responder, antes mesmo de pensar em uma resposta, senti meu rosto doer, minha cabeça girar e... E de repente a dor me desperta das minhas lembranças. É como se eu tivesse acabado de ter um pesadelo, ali, em pé, com minhas mãos nos cabelos da minha filha.
“Pronto. Está linda.” E então eu volto ao meu quarto. O pai das crianças ainda dorme. Silenciosamente, para não acordá-lo, visto minha saia preta preferida e minha blusa vermelha de algodão. Coloco meus brincos, me perfumo, calço minhas sandálias, desembaraço os cabelos e passo meu batom. Por um instante, me sinto mulher. Feminina e confiante. Sinto como se nada pudesse me derrubar, como se fosse eu e mundo. Até o momento em que vejo meu reflexo no espelho. Maldito objeto de vidro. Tão fácil de quebrar, mas quem fica em pedaços sou eu.
O relógio marca 06h37min. Preciso ir. Na rua, o Sol, ainda tímido, insiste em esconder-se atrás de algumas nuvens. A chuva parou. Até chegar ao trabalho, sou devorada pela mesma rotina de todos os dias. Passo pelo mercado, onde já sei que na volta pra casa preciso comprar leite; ouço as mesmas crianças de sempre correndo e gritando em busca do 1º lugar na corrida que apostaram até a escola. E então penso nos meus filhos. Será que se lembraram de vestir um casaco? Sinto o cheiro de pãezinhos quentes na padaria do outro lado da rua. Minha barriga ronca, avisando-me de que ainda não me alimentei.
E como parte da rotina, ainda tem os olhares. Todos os dias, na mira de dezenas de pares de olhos. Alguns curiosos. Outros com pena. Alguns demonstram-se indignados, outros indiferentes, e tem até aqueles acompanhados de um risinho disfarçado. “Aguenta, isso já vai acabar.” Eu penso, ao perceber que já estou quase lá.
Chego em frente ao prédio onde trabalho. Um prédio grande, de cor escura, abrigando sempre os mesmos carros estacionados. Eu entro na ânsia de que a solução para o fim dos olhares está próxima. Pelo menos por algumas horas. Pego meu crachá e a chave do meu armário e caminho até o pequeno vestiário que se encontra atrás da porta ao lado do elevador. Procuro ansiosa pelo armário de número 27. Giro a chave e então, está ali, exatamente do mesmo jeito que eu o deixei ontem. Pego meu uniforme e o visto. E de repente, como mágica, eu deixo de ser a bela mulher sofrida que tem de lidar com os olhares diante das marcas deixadas pelo marido infeliz. Possuo agora meu uniforme de empregada, minha capa da invisibilidade, uma peça sobre a qual eu sentiria ódio, não fosse pela liberdade que ela me proporciona de limpar banheiros, servir cafés e esfregar o chão sem ser vista.
Termino meu trabalho e ao tornar-me visível de novo, vestindo as roupas com as quais eu cheguei, lembro dos olhares. Mas não são aqueles que eu encontrarei no caminho até a minha casa. Lembro de quatro pares de olhos confusos que me observam todos os dias. Lembro dos gêmeos de nove anos. Lembro do caçula. Mas principalmente, lembro da garotinha de onze anos. Logo, ela será uma mulher. Uma mulher de lindos olhos grandes e verdes, os quais eu não gostaria de observá-los serem preenchidos por marcas, hematomas, como os meus.
Saio para a rua e lá estão eles outra vez. Os olhares. “Podem olhar.” Eu penso. E complemento: ”Mas olhem bem, porque será a última vez que as verão.” E então eu entro em um lugar com o qual minha mente sonhou por anos. Enquanto caminho por ali, vejo que não sou a única. E sinto, nos olhares das outras mulheres, que elas pensam a mesma coisa. “Quero fazer uma denúncia.” Eu digo para a mulher que se encontra atrás do balcão. Quero tanta coisa. Mas quero principalmente poder me olhar no espelho e dizer a ele que a frágil não sou eu.


*Conto meu criado especialmente para o 5º prêmio Igualdade de Gênero, um concurso nacional de redações referentes à mulher.
Já havia participado do 4º prêmio, no qual ganhei reconhecimento na categoria Menção Honrosa, com uma dissertação sobre a influência da mídia nos padrões atuais de beleza. Escrevi por obrigação, porque a professora de filosofia havia exigido. Meses depois, quando já nem lembrava mais da minha participação, recebi a notícia. Reli meu texto. Não entendi como pôde ter sido escolhido.
Resolvi participar de novo. Por vontade própria. Dessa vez criei a narração que vocês acabaram de ler acima. Se vai ganhar ou não, não sei. Só sei que dessa vez, eu gostei!